Quer jogar? - Parte 1

    Amber acordou cedo naquele dia. Abriu os olhos devagar ainda relutante em acordar, mas não havia como se esconder do sol que batia em seu rosto. Irritada, resolveu acordar logo de uma vez. Sentou-se na beira da cama com as mãos nos joelhos, ainda estava assimilando que um novo dia nascera. "É, lá vamos nós começar mais um dia" - pensou.
    Enquanto caminhava até o banheiro, parou em frente ao espelho de seu quarto e se deu uma bela olhada de cima a baixo. Ela estava de fato muito linda para quem acabara de acordar. O baby-doll listrado realçava suas curvas e a alça de um dos ombros estava caída. "Bom dia, gata!" - disse pra si mesma mandando uma piscadinha e um beijo para o espelho. A partir dali o mau humor foi embora e ela se sentia bem confiante.
Enquanto tomava banho, fez questão de passar o sabonete devagar, brincando com a espuma que ele fazia e sentindo como sua pele era macia. Ela adorava esses pequenos prazeres. Faziam sua autoestima ir lá no céu. Como seria bom se mais alguém a pudesse tocar naquele momento, com a mesma suavidade e pressão que ela fazia com tanta maestria. Até ao lavar seus longos cabelos castanhos suspirava com a massagem que fazia com as pontas dos dedos. Não era a toa que a hora do banho era a melhor hora do dia -e ela tomava vários -.
    O dia estava quente mais do que o de costume e por isso ela optou por usar uma roupa mais confortável: um vestido vermelho curto de alça fina e estampado com pequeníssimas bolinhas amarelas todo em malha fria. Tão bem forrado que dispensava o uso de sutiã - que o tornava infinitamente mais confortável. Decidida a roupa do dia, era hora de ir até a padaria comprar seu café da manhã. 
    Saindo de casa, a claridade do sol a deixa de olhos entreabertos por alguns segundos, mas tempo suficiente para ela perceber que do outro lado da rua passava um jovem que ela nunca tinha visto por ali. Ambos pareciam ir até a padaria -e ela secretamente torcia por isso-, mas ao chegarem na metade do caminho o rapaz entrou numa loja geek -dessas que vendem quadrinhos, bonecos de heróis e tem um espaço dedicado a jogos de console e lan house-. "Que mané" - pensou. Mas enquanto caminhava olhou umas duas vezes para trás, como na esperança de vê-lo novamente.
    A fila na padaria não andava graças a uma senhora que não sabia o que pedir, mas Amber mal estava prestando atenção. Seu pensamento estava voltado para o rapaz que havia visto. "O que um gato desses está fazendo num lugar daqueles, meu Deus?" - não fazia sentido. Finalmente a senhora foi atendida e a fila começou a andar rapidamente. Amber não percebeu o caixa chamando pelo próximo cliente, foi quando sentiu uma mão em seu ombro seguida de uma voz grossa:
- Moça, o caixa está livre. 
Ela olhou para trás e deparou-se com um rapaz alto de olhos verdes e cabelo castanho claro. "Meu Deus, é ele!" - E ficou sem reação.
- O-obrigada.
    Foi o que conseguiu dizer sem pensar. Ficou tão maravilhada que suas bochechas coraram. Enquanto escolhia o que ia levar, volta e meia olhava para o rapaz. Com certeza ele não era dali e isso podia significar muitas coisas. Seria um vizinho novo? Um amigo de alguém tirando férias? Veria ele novamente? Ela não sabia responder, mas sabia que gostaria de conhecê-lo -intimamente, diga-se de passagem-. Quando estava quase pagando pelas suas compras, resolveu puxar conversa antes que fosse tarde.
- Hey, obrigada pela chamada. Eu estava meio distraída e nem percebi.
- Tudo bem, sempre acontece comigo. - Disse com um sorriso no canto da boca.
- Você é novo por aqui? Desculpa perguntar, mas é porque nunca te vi por aqui antes...
- Eu me mudei recentemente. Estou no apartamento do outro quarteirão. Ainda estou me ambientando. Até agora só conheço a padaria, o mercantil e a loja de quadrinhos.
- Sério? Bom, eu até te chamaria pra conhecer uns lugares bacanas por aqui, mas não parece ser muito a sua praia... - Disse levantando as sobrancelhas e desviando o olhar para baixo.
- Ué, por quê?
- Ah... Você parece ser um cara mais caseiro e tal... 
- Só por causa da minha blusa? - Risos. Olha... eerh...
- Amber. Desculpa, nem disse meu nome.
- Amber. Desculpa, também não disse meu nome. Eu sou o Armando. E você parece que também mora sozinha, a julgar pelo que está levando. Por que não vem tomar café comigo e deixa eu desconstruir essa imagem meio errada que você criou de mim?
- Eeerh... Nossa... Eerh... Claro. Por que não? - Sorria corada e sem jeito.
- Então vamos.
    Enquanto caminhavam até o apartamento de Armando, Amber não parava de pensar no que estava fazendo e como foi parar naquela situação. Apesar de sentir que ele era uma boa companhia, não mudava o fato de ser um completo estranho que ela acabara de conhecer.

CONTINUA...

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